Já há alguns anos que o Brasil vive uma crise econômica, que vem sendo agravada pela pandemia de COVID-19. Por isso, de tempos em tempos, é normal que as pessoas se perguntem: “por que simplesmente não imprimimos mais dinheiro?”. A solução não é tão fácil assim.
Abaixo, vamos explicar o que exatamente significa falar sobre “impressão de dinheiro” e por que essa ideia não tem um consenso entre os economistas.
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O que significa “imprimir dinheiro”?

“Imprimir dinheiro” é uma força de expressão. Não se trata apenas de rodar as máquinas da Casa da Moeda e colocar mais notas para circular. Na prática, isso significa emitir moeda e adotar uma política monetária que expanda a oferta de dinheiro.
No Brasil, a distribuição e o controle dessa emissão é responsabilidade do Banco Central. Ele deve garantir que a quantia em circulação corresponda às riquezas produzidas no país e ao ritmo do crescimento econômico. Para “imprimir dinheiro”, o BC deve comprar títulos públicos federais e, assim, “financiar” essa expansão.
Uma outra forma de “impressão de dinheiro” é a fabricação de novas cédulas. Este é um processo comum, para substituição de moedas danificadas ou então para compensar o déficit de notas circulando no país. Neste caso, também cabe ao Banco Central definir a quantidade de notas e moedas que devem ser produzidas.
Por que simplesmente não imprimimos mais dinheiro?
A prática é polêmica entre economistas. O dinheiro de um país está relacionado à riqueza gerada por ele, e não à capacidade de imprimir notas ou moedas. Por isso, não adianta nada imprimir mais dinheiro se a riqueza produzida no Brasil não estiver crescendo para justificar essas emissões.
Emitir notas e moedas faria as pessoas terem mais dinheiro e quererem comprar mais, no entanto, a quantidade de serviços e bens disponíveis continuaria a mesma. Assim, faltariam riquezas e sobraria dinheiro. O resultado imediato disso é a desvalorização do Real e o aumento nos preços, isto é, a inflação.
Outro problema é que a impressão de dinheiro levaria a uma queda na taxa básica de juros, a taxa Selic. A taxa Selic é usada pelo Banco Central para controlar os juros no país. Se a taxa Selic sobe, o preço cai, aumentando os juros. Agora se a taxa Selic cair, o preço sobe, e os juros são menores. Por isso, ela é usada para controlar a inflação.
Com a queda na taxa de juros, a diferença na remuneração entre títulos públicos brasileiros e de outros países mais ricos cairia. Isso levaria à saída de moedas estrangeiras do país, uma vez que os investidores preferirão colocar seu dinheiro em países com menor risco e/ou maior remuneração. Assim, o preço da moeda estrangeira aumentaria, 0 que poderia atingir o preço de produtos importados ou de bens que são produzidos com matérias-primas do exterior.
No entanto…
Existem alguns especialistas que defendem a ideia de “imprimir dinheiro”. Um deles é Henrique Meirelles, secretário da Fazenda de São Paulo, que presidiu o BC por oito anos no governo Lula. Em 2020, em uma entrevista à CNN, ele afirmou que a queda da atividade econômica na pandemia foi tão intensa que justificaria a impressão de dinheiro.
Além disso, a ideia de que a moeda causa inflação pressupõe uma economia aquecida e fechada. No entanto, ela está muito distante do limite da capacidade, assim, suspostamente não haveria risco inflacionário.
Já o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não concorda com a declaração. Em entrevista ao Valor Investe, no ano passado, ele disse que “a ideia de imprimir dinheiro porque a inflação está baixa é um argumento perigoso”.
Brasil já imprimiu dinheiro

O Brasil já optou pela impressão de dinheiro em vários momentos. Um deles foi durante a crise de 1929. Outro momento foi na década de 1950, no governo de Juscelino Kubitschek, para financiar o plano de metas. A prática também foi adotada na ditadura militar, principalmente após 1979, e, mais tarde, no governo Sarney (1985-1990).
Na maioria das vezes, os países recorrem à “impressão de dinheiro” como última alternativa para pagar a conta de crises econômicas e financiar os gastos públicos. Mais recentemente, com a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, a Europa e os Estados Unidos também entraram em ação para prover liquidez ao mercado.
Fonte: Nexo Jornal e Foca no Dinheiro