Há 22 anos, um crime bárbaro ocupava seu lugar na história dos Estados Unidos. O massacre de Columbine foi um tiroteio em massa que ocorreu em abril de 1999. A tragédia aconteceu na Columbine High School, na cidade de Littleton, Colorado, Estados Unidos. O caso é lembrado não apenas pelas 13 vidas perdidas, mas também pelas discussões que levantou entre os estadunidenses sobre assuntos como bullying e segurança escolar.

Os autores do crime
Eric David Harris (18) e Dylan Bennet Klebold (17) foram os responsáveis pelo Massacre de Columbine. Eles eram estudantes seniores da Columbine High School e tiraram a vida de 13 pessoas. Os dois adolescentes se suicidaram na biblioteca da escola, onde mataram 10 alunos.

Na escola
Os dois jovens cursavam o ensino médio na Columbine High School e por isso não tiveram dificuldades para entrar no colégio. De acordo com professores, Eric e Dylan eram estudantes medianos, ou seja, não se destacavam negativa ou positivamente entre os colegas.
À primeira vista, Eric e Dylan pareciam apenas dois alunos normais. Contudo, os meninos eram muito impopulares e alvos constantes de bullying. Depois que aconteceu o massacre, escolas de todo o mundo passaram a abordar com seus alunos as consequências do bullying.
Hitmen for Hire
Eric e Dylan participaram das produções de teatro da escola, operaram produções de vídeo e se tornaram assistentes de computador, preservando o servidor de computadores da escola. Em dezembro de 1998, eles gravaram Hitmen for Hire, um vídeo para um projeto escolar. Nele, os meninos xingaram, gritaram para a câmera e fizeram várias declarações violentas. Além disso, eles atuaram como se estivessem matando alunos no corredor de sua escola, como Assassinos de Aluguel. Mais tarde, o vídeo se tornou parte dos materiais utilizados para estudar a mente dos dois adolescentes.
The Trenchcoat Mafia e Marilyn Manson
Eric e Dylan foram inicialmente relatados como membros de um grupo de alunos solitários que se chamava “The Trenchcoat Mafia”, embora, de fato, não tivessem nenhuma conexão particular com o grupo. Seja como for, o grupo cultuava obsessões com armas, nazistas, militarismo, a Internet, cultura gótica e o cantor Marilyn Manson.
Inclusive, Manson quase perdeu a sua carreira depois que os investigadores o apontaram como ídolo dos estudantes. Na época, muitos jornais publicaram manchetes como “Assassinos eram adoradores de Manson” e “O adorador do demônio disse para as crianças matarem”.
Anos depois, em entrevista ao The Guardian, o músico falou que, de fato, com as notícias, seus discos sofreram uma grande queda de vendas: “A era Columbine destruiu toda a minha carreira na época.”
Jogos violentos
Além do grupo com obsessões bizarras, Eric e Dylan também gostavam de jogar no computador. Eric criou um conjunto de mapas para o jogo Doom, os quais, mais tarde, ficaram conhecidos como “Harris levels“. Ele também tinha vários sites que hospedavam arquivos dos jogos Doom e Quake, assim como informações de equipe para as pessoas com quem jogava online.

Os sites relatavam abertamente o ódio que Eric tinha das pessoas de seu bairro e do mundo em geral. Quando a dupla começou a fazer testes com bombas caseiras, eles publicaram os resultados das explosões no site. O site foi excluído pela America Online após o massacre e foi preservado pelo FBI.
O Massacre de Columbine: como tudo aconteceu
Minutos antes do primeiro tiro
No dia 20 de abril de 1999, Eric e Dylan colocaram uma pequena bomba num campo próximo à escola. O campo também ficava perto do corpo de bombeiros. A bomba não foi uma mera coincidência: os adolescentes a programaram para explodir às 11h14 da manhã. Assim, os bombeiros estariam distraídos com a explosão no campo e os meninos teriam tempo suficiente para realizar o tiroteio.
Enquanto isso, às 11h10, os estudantes chegaram separadamente na Columbine High School. Como faziam parte do corpo de alunos, não tiveram dificuldades para entrar no colégio. Eric deixou seu veículo no estacionamento da entrada sul, enquanto Dylan estacionou na entrada oeste. A lanchonete da escola, o alvo principal de bombas da dupla, estava situada entre os dois estacionamentos. Ambos os carros tinham bombas escondidas, com explosão programada para as 12h.

A dupla se encontrou no estacionamento da entrada sul. Antes de ingressarem na lanchonete, Eric e Dylan armaram duas bombas de propano de 9kg cada. Depois que começou o turno “A” de lanches, os meninos entraram no refeitório e colocaram duas mochilas com explosivos, programados para às 11h17. Em seguida, ambos voltaram para o ponto de encontro e aguardaram a explosão, com o objetivo de atirar nos sobreviventes que tentassem fugir do restaurante.
Nesse meio tempo, Neil Gardner, vigia integral da Columbine High School, estava lanchando em seu carro de patrulha na área noroeste da escola, enquanto vigiava alguns alunos. Analogamente, outros funcionários não viram Dylan e Eric colocando as mochilas na lanchonete. O vigia das câmeras, por sua vez, estava trocando as fitas quando isso aconteceu.
Salvo por um triz
O aluno Brooks Brown era amigo e colega de classe da dupla. Por sorte, ele havia feito as pazes recentemente com Eric. Brooks estava fumando no estacionamento quando viu os rapazes. Inclusive, ele conversou com Eric sobre uma prova que ele havia perdido naquele dia. Eric, despreocupado, disse: “Não importa mais. Brooks, eu gosto de você agora. Saia daqui. Vá para a casa”. Então, com medo de fazer mais perguntas, Brooks se afastou imediatamente da escola.

No caminho, Brooks ouviu os alunos da Columbine High School saindo para o lanche. Enquanto isso, Eric e Dylan aguardavam a explosão das bombas na lanchonete.
O início do massacre de Columbine
Depois que as bombas instaladas na lanchonete falharam, Eric e Dylan foram em direção à escola. Eles foram até a escadaria oeste, que dava para a entrada oeste da lanchonete. No gramado próximo ao restaurante, estava aquela que se tornaria a primeira vítima dos rapazes: Rachel Scott (17) lanchava com seu amigo Richard Castaldo. Nesse meio tempo, os atiradores jogaram uma bomba caseira próximo ao casal de amigos, mas ela não explodiu. Então, Eric e Dylan tiraram as armas de seus casacos e começaram a atirar contra Rachel e Richard.
A adolescente foi baleada 4 vezes e morreu na hora. Richard foi baleado 8 vezes, no braço, peito, costas e abdômen, mas sobreviveu.

Em seguida, os atiradores se dirigiram novamente para a escadaria, e lá atiraram em mais três estudantes que estavam subindo: Daniel Rohrbough e Sean Graves (15), e Lance Kirklin (16). Daniel morreu durante sua tentativa escapar, enquanto Sean e Lance ficaram em estado crítico.

Eric e Dylan voltaram e começaram a atirar em direção a cinco alunos sentados na grama ao lado da escada. Dois ficaram feridos enquanto os outros três saíram ilesos. Dentro da lanchonete, Dylan foi verificar as bombas de propano. Depois disso, ele se encontrou novamente com Eric, que estava atirando nos alunos, e ambos seguiram para a entrada da escola. No caminho, os rapazes jogaram algumas bombas caseiras, das quais poucas explodiram, além de tiros sem pontaria.
11h22: a primeira ligação
Até o momento, os alunos que estavam dentro da escola pensavam que tudo não passava de uma brincadeira. A professora Patti Nelson percebeu o movimento e foi em direção à entrada do colégio, acompanhada do aluno Brian Anderson (17). Ela tinha a intenção de sair para pedir para que Eric e Dylan parassem, pensando que eles estavam gravando um vídeo. Quando Brian abriu o primeiro conjunto das portas da escola, Eric e Dylan atiraram nas janelas, ferindo-o com pedaços de vidro, e atingindo Patti Nielson no ombro com estilhaços.
A professora conseguiu correr, mas acabou deixando Brian para trás. Ela foi para a biblioteca, de onde fez o telefonema para a polícia e pediu para que os alunos se escondessem embaixo das mesas. Depois que Patti ligou, a polícia contatou Neil Gardner, o vigia da escola, que se dirigiu imediatamente para o local. Da parte externa, ele trocou alguns tiros com Eric, que já estava entrando na escola. Essa troca de tiros – que não feriu ninguém – foi crucial para que Brian Anderson se salvasse, pois ela distraiu os atiradores enquanto ele fugiu para se esconder.

A troca de tiros terminou em 5 minutos. Em seguida, os atiradores foram para o corredor norte da escola, em direção à biblioteca. Eric e Dylan atiraram várias vezes e feriram alguns colegas. O professor David Sanders conseguiu tirar vários alunos da lanchonete, mas foi atingido pelos tiros. David não sobreviveu e morreu devido à perda excessiva de sangue.
O massacre na Biblioteca
Às 11h29, Eric e Dylan entraram na biblioteca, onde 52 alunos, 2 bibliotecários e 2 professores se escondiam. Patti Nelson, que já havia escapado dos atiradores uma vez, estava falando com a polícia pelo telefone. Eric gritou para que todos os atletas presentes se levantassem, mas ninguém o fez. “Ótimo, vou atirar mesmo assim!” disse enfurecido. Ele atirou duas vezes numa mesa de madeira, sem saber que Evan Todd se escondia debaixo dela. Felizmente, Evan não se feriu.

As vítimas da biblioteca
Os atiradores foram até o outro lado da biblioteca, onde haviam duas fileiras de mesas com computadores. O aluno Kyle Velazques (16), que estava escondido debaixo de uma das mesas, foi morto por Dylan com um tiro na cabeça. Perto das janelas, os atiradores viram que a polícia estava evacuando alguns alunos do local. Os rapazes trocaram tiros com os policiais, mas ninguém se feriu.
Terminada a terceira troca de tiros, Eric e Dylan feriram mais quatro colegas e mataram um, Steven Curnow (14), com um tiro no pescoço. Eric se abaixou em frente a uma das mesas de computadores e encontrou a jovem Cassie Bernall (17). Algumas testemunhas disseram que o atirador perguntou para Cassie: “Você acredita em Deus?”, e ela respondeu que “sim”, antes de ser morta com um tiro na cabeça. Cinco meses após o massacre, a mãe de Cassie lançou o livro “Ela disse que sim: o improvável martírio de Cassie Bernall”, com memórias sobre a vida de sua filha.

Na biblioteca, Eric e Dylan mataram mais sete alunos: Isaiah Shoels (18), Matthew Ketcher (16), Lauren Townsend (18), John Tomlin (16), Kelly Fleming (16), Daniel Mauser (15) e Corey DePooter (17).
O fim de Eric e Dylan
Depois que saíram da biblioteca, os rapazes foram até a lanchonete, na tentativa de explodir as bombas de propano. Após as tentativas de atirar nas bombas, mas sem sucesso, Dylan acendeu um Coquetel Molotov e o jogou nos explosivos. Pouco tempo depois, quando os atiradores já estavam fora da lanchonete, o Coquetel explodiu e causou um grande incêndio.
Eric e Dylan deram uma volta pela escola, provocando os alunos que se escondiam dentro das salas de aula e no banheiro, mas sem atirar em nenhum deles. Depois que perceberam a vigia da polícia, eles decidiram voltar para a biblioteca, às 12h02. Lá, eles cometeram suicídio às 12h08, terminando, então, aquele que seria considerado o maior massacre escolar de todos os tempos.
Perguntas comuns sobre o ataque
Onde Eric e Dylan conseguiram as armas?
Como eram menores de idade, nenhum dos dois atiradores tinha autorização para comprar armas. O equipamento bélico da dupla só foi possível graças a dois amigos: Mark Manes e Philip Duran. De acordo com entrevistas, os dois acreditavam que os amigos tinham interesse de praticar tiro ao alvo, não de matar pessoas. Mesmo assim, foram condenados a seis anos de prisão, por fornecerem armas a menores de idade.
Já os explosivos foram criados pelos próprios rapazes em suas casas, com a ajuda de tutoriais da Internet.
Por que eles usaram explosivos?
Simples: para machucar os colegas e, principalmente, despistar a polícia. As bombas atrairiam os policiais e o corpo de bombeiros para que, dessa forma, Eric e Dylan conseguissem matar o maior número possível de pessoas.
Quais foram as motivações?
Bom, a resposta para essa pergunta é inconclusiva, pois ambos os garotos já estão mortos. Porém, a partir de entrevistas e estudos de materiais pessoais de Eric e Dylan (como diários e vídeos caseiros), os policiais do departamento de polícia de Littleton descobriram que os estudantes eram alvos constantes de bullying e se sentiam excluídos pela escola como um todo, apesar de terem seu grupo seleto de amigos. De acordo com Brooks Brown, que conversou com Eric no dia do ataque, os atiradores eram considerados “os perdedores dos perdedores”.
O pai de Dylan comentou, inclusive, sobre o ódio que o filho sentia pela cultura atleta em Columbine. Ele contou que o rapaz havia reclamado sobre isso não muito tempo antes do ataque, e havia contado que Eric, particularmente, tinha sido vítima deste grupo social. Neste comentário, Dylan havia afirmado: “Eles certamente infernizam Eric”.

Posteriormente, mais um menos um ano após o massacre, o Serviço Secreto dos Estados Unidos analisou as histórias de 37 tiroteios em escolas premeditadas. Com isso, descobriu-se que o bullying, do qual alguns dos atiradores descreviam como “termos que se aproximavam do tormento”, desempenhou o papel principal em mais de dois terços nos ataques.
As consequências do massacre de Columbine
O massacre de Columbine atingiu muito mais do que a cidade de Littleton e a comunidade de Columbine. O caso foi um dos mais comentados da história, e trouxe à tona debates sobre temas sensíveis, mas cruciais para a saúde mental e segurança dos jovens.
Segurança
Como era de se esperar, as autoridades americanas ficaram extremamente chocadas com o crime e redobraram o número de guardas e vigias nas escolas. Além disso, todas as escolas dos Estados Unidos foram obrigadas a instalar detectores de metal e câmeras em seus corredores.
Algumas escolas passaram a exigir que os alunos usassem mochilas transparentes e identificações geradas pelo computador, com registro na polícia.
O controle de armas também foi discutido entre as autoridades americanas. Em 2000, um ano após o massacre, foi introduzida a legislação federal e estadual que exigia fechaduras de segurança em armas de fogo, assim como proibia a importação de cartuchos de munição de alta capacidade.
Táticas policiais
Houve uma mudança significativa nas táticas da polícia após o massacre de Columbine. A tática Efetivação Instantânea de Ação Imediata é usada em situações que tenham um atirador em ação. Nela, a polícia leva em conta a presença de um atirador em ação cujo interesse é matar, e não manter reféns.

Esta tática exige uma equipe de quatro pessoas para entrar no local de qualquer tiroteio que se desenrola, até mesmo se houver apenas um único policial disponível. Os policiais que utilizam esta tática são treinados para irem em direção ao som dos tiros e neutralizarem o atirador o mais rápido possível. Ela foi utilizada em várias tentativas de massacre pelo país, inclusive em 2007, na universidade Virginia Tech, onde ajudou a salvar dezenas de vidas.
Políticas Anti-Bullying
Uma das maiores consequência s do massacre de Columbine foi a discussão de políticas anti-bullying nas escolas de todo o mundo. Algumas escolas renovaram políticas anti-bullying já existentes, além de adotarem uma abordagem de tolerância zero para a posse de armas e comportamento agressivo por parte dos alunos.
Em maio de 2002, o Serviço Secreto dos Estados Unidos publicou um relatório que examinava 37 tiroteios em escolas americanas. Eles encontraram as seguintes constatações:
- Incidentes de violência direcionada na escola raramente eram atos repentinos e impulsivos;
- A maioria dos autores dos crimes envolvidos em algum comportamento antes do incidente que causou preocupação em outras pessoas ou indicou necessidade de ajuda;
- A maioria dos autores dos crimes tinham dificuldades em lidar com perdas significativas ou falhas pessoais. Além disso, muitos tinham considerado ou tentado suicídio;
- Muitos dos autores dos crimes se sentiam intimidados, perseguidos, ou feridos por outros antes do ataque.
Depois que lançaram o estudo, muitas escolas passaram a contratar psicólogos para darem assistência aos alunos e evitar que eles machucassem a si mesmos ou outras pessoas.
Cultura
Sim, é isso mesmo que você está lendo: o impacto cultural do massacre de Columbine foi gigantesco. Até hoje ele é referência de produtos da Industria Cultural. A música “Pumped Up Kicks”, da banda Foster The People, chegou a ser banida de algumas rádios americanas por se inspirar na perspectiva de um atirador. Mesmo assim, ela foi indicada ao Grammy e esteve no top 5 da Billboard Hot 100.
Outra referência muito famosa é da primeira temporada da série American Horror Story. Em “Murder House”, vemos a cena em que Tate, um jovem problemático, mata alguns alunos do colégio Westfield High. Ryan Murphy, o diretor da série, confirmou que a cena foi inspirada no massacre de Columbine. O objetivo de Murphy, era de lembrar a importância das políticas antiarmamentistas e de que não podemos romantizar atiradores.

Até hoje, mesmo 22 anos depois do ocorrido, o massacre de Columbine ainda é um dos crimes mais comentados da história dos Estados Unidos. O que você acha dessa história? Deixe nos comentários!